A música é, em si mesma um instrumento pedagógico. Não há dúvida que ela educa! Educa para preservar a memória, a cultura, a história e a geografia do Brasil. Educa por falar de política: o barbarismo da censura na época da ditadura militar, o sofrimento vivido no exílio, por quem o regime de exceção perseguiu. A música educa porque apresenta e permite discutir algumas das nossas tradições e preconceitos mais arraigados: o machismo, o racismo, a homofobia, a violência, a divisão de classes...tudo isso, indicando pistas que consignam a aproximação da formação omnilateral com a ludicidade.
Na escola, o espaço que é destinado ao trabalho com a música, geralmente não dá relevo a sua gênese, dificilmente, explorando as determinações da história que precipitaram a sua elaboração. Comumente, o trabalho validado pelo professor dos núcleos de artes escolares devota-se ao domínio de notas musicais e, conquanto, parafraseando Caetano Veloso concordemos com a letra da música “Tigresa” que exclama: “[…] como é bom poder tocar um instrumento [...]”, quando se investe somente no domínio da teoria musical – acordes, tons, partituras, etc – perde-se a oportunidade de tratar a música em sua dimensão totalizante: enquanto instrumento para educar em prol da formação humana omnilateral.
Na música “Diariamente”, escrita por José Reis e cantada por Marisa Monte, a letra reivindica “[…] para todas as coisas dicionário [...]” e nós cá, em nossa iniciativa de ação extensionista “Memória e ludicidade para favorecer os diálogos MIT (multi, inter e transdisplinares) na experiência da escola sem sala de aula" reivindicamos atenção à importância da música para a formação de nossos jovens, especialmente, aqueles das escolas do campo. Reivindicamos mais atenção com a música, porque ela expõe narrativas sobre as determinações históricas que vão formando nossa identidade enquanto povo, enquanto nação.
E se se quer falar de resistência “Para não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré conclama a reação contra os abusos perpetrados pela ditadora militar. Do mesmo modo, age Caetano Veloso e “Os mutantes” com o seu grito rebelado, na letra da canção “É proibido proibir”. O “Cálice” de Chico Buarque denuncia a brutalidade do regime promovedor da censura e dramaticamente interroga: como viver em tais circunstâncias? Ou para ser fiel ao autor, “como beber dessa bebida amarga, tragar a dor, engolir a labuta”? Em “Terra”, um Caetano Veloso saudaso de sua Bahia e a liberdade, declara o seu amor pela nacionalidade/territorialidade, extraída na experiência do exílio, enquanto Jorge Ben Jor e Dalva de Oliveira (Vicente Paiva - compositor) exaltam a essa nacionalidade/territorialidade, respectivamente nas letras das canções “País tropical” e “Olhos verdes”. Na letra da canção “A carne”, composta e cantada por Elza Soares ao mesmo tempo em que o racismo é exposto, viceja o objetivo da sua denúncia. Na letra da música “Boneca de piche” de Itamar Assumpção o “ser negro” é tomado como um "fardo" ao qual não se pode declinar, pois, ser preto não é algo que se dê ao "gosto" do autor.
Nas músicas, nossas lutas também, não são esquecidas. João Bosco e Aldir Blanc, na letra da canção “O mestre sala dos mares”, por exemplo, homenageia a João Cândido Felisberto, líder da revolta da chibata. “Zumbi”, de Gilberto Gil dá loas ao herói da resistência dos negros. E da exaltação passa-se a crítica. Em “Nome aos bois” dos Titãs são apresentados os nomes de alguns dos maiores ditadores no século XX. E as músicas que educam para a conscientização são tantas, e são tão bonitas, e dão a letra tão fortemente!
Pelo exposto acima, deixamos claro que a arte da música insinua-se, forjando um jogo em que a dialética “dá a letra”, colocando no mesmo plano poesia e ativismo enquanto possibilidade de aprender sobre o Brasil. A música não é somente argumento para a distração, ócio e o movimento. Ela educa, até mesmo quando é feita com o objetivo de deseducar. Na proposta da ação extensionista, projeto intitulado "Memória e ludicidade para favorecer os diálogos MIT (multi, inter e transdisplinares) na experiência da escola sem sala de aula", o objetivo é trabalhar criticamente o conteúdo das letras das músicas que serão selecionadas por nós, membros da equipe executora para criticar e melhor balizar a BNCC.
Cumpre esclarecer que as canções mencionadas aqui, servem de referências, apenas, pois elas ilustram os temas da polêmica BNCC com um conteúdo crítico. A ideia é trazer algumas pautas para discutir a BNCC juntos. Queremos falar sobre política, preconceitos (o machismo, o feminismo, o racismo, a homofobia, a violência social), etc e problematizá-las através da música.
Para começar!!!...
A BNCC sugere o trabalho com o tema SAÚDE e como, não poderia deixar de ser, nós o aproximamos da pandemia, para 'dar a letra' em seu pior momento, tomar os cuidados necessários e perseverar, até que as coisas possam voltar a um novo normal. A letra da música "Pausa" é um alento para os ouvidos e o coração, porque fala de cultivar a esperança no momento em que todos nós mais precisavamos.
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Cartola descreve muito bem no verso de sua canção "Preciso me Encontrar" o sentimento que nós temos, depois de quase três anos da Pandemia do Covid-19, no verso:
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Contudo, a canção de Brazza nos chama para o embate "Em busca de um bem maior, transformar o nosso redor, ser alguém melhor." Precisamos acordar é ter coragem como nossos "Heróis" que não tiveram medo de lutar, e foram para o campo de batalha deixando seus nomes na história.
Avante, que a luta é grande!
eu não tinha planos tinha sonhos como Martim
queria ser grande, Bob, Gandhi, Rosa Parks
espalhar ideias perigosas tipo Marxs [...]
[...] E me fazia caminhar em prol de um bem maior
e quanto mais eu caminhava, o sol se fez maior
fiz o que podia pra transformar meu redor
e a cada dia, a cada dia, a cada dia, a cada dia, a cada
dia me tornava um ser humano melhor [...]
Artista: Fabio Brazza